O presente estudo analisa a canção Haiti (1993), composta por Gilberto Gil e Caetano Veloso, com foco em uma abordagem que analisa as interseções entre colonialidade, desigualdade racial e exclusão social. A pesquisa procura traçar compreensões sobre o modo como a canção tensiona narrativas hegemônicas de nação, haja vista que produz conjunções entre as realidades históricas e culturais do Brasil e as do Haiti. Para tanto, adotamos uma abordagem interdisciplinar, fundamentada na literatura acadêmica e análise da canção. Organizamos a pesquisa em torno da maneira como as subjetividades são acionadas e negociadas no corpo da música, ou seja, o modo como dialogam com experiências de marginalização no sistema-mundo colonial-moderno. Nesse viés, estruturamos este trabalho por meio das discussões de teóricos como Candido (1989), Quijano (1997) e Hall (2006). Dessa forma, o objetivo é discutir como o texto estético é capaz de atuar como ferramenta para a estruturação da consciência nacional e das dinâmicas de poder que perpetuam as defasagens sociais. Logo, Haiti contesta a narrativa difundida hegemonicamente da existência de um Brasil alegre e inclusivo, já que revela e contrasta um país marcado pelo racismo, violência e exclusão, além de transcender a crítica nacional ao associar essas realidades ao processo histórico de exploração e subordinação da e na América Latina. Assim, Haiti se manifesta como uma possibilidade de contranarrativa, pois propõe uma (re)organização de sentidos e um projeto de humanidade que denega as hierarquias impostas pelas relações do imperialismo.
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